Criar resiliência na cadeia de suprimentos por meio do desenvolvimento de um ecossistema digital
Uma conversa com Dave Evans, cofundador e diretor executivo (CEO) da Fictiv
A resiliência da cadeia de suprimentos tornou-se um problema da alta gerência durante a pandemia. Isso foi um acontecimento imprevisto para Dave Evans, o engenheiro que fundou a Fictiv em 2013 depois de ficar frustrado com as longas horas dedicadas a contratar e gerenciar fornecedores enquanto ele liderava o desenvolvimento de novos produtos na Ford. Sua resposta foi criar um ecossistema de manufatura digital capaz de fornecer peças com uma velocidade cinco vezes superior em comparação com as opções de sourcing tradicionais e mudar instantaneamente a produção de um local para outro. Dave falou recentemente no podcast AWS Industrial Insights sobre como essa agilidade beneficiou os clientes da Fictiv em meio às paralisações da fábrica e à escassez de produtos durante a pandemia de COVID-19.
Ouça a entrevista completa no podcast AWS Industrial Insights
Durante a pandemia, a agilidade da cadeia de suprimentos passou de um problema funcional para um problema da alta gerência. De uma hora para outra, o CEO, o CFO e os membros do conselho estavam perguntando: ‘Por que a receita não está batendo?’ Então, os líderes da cadeia de suprimentos estão acordando e dizendo que precisam de melhores recursos de rastreabilidade, transparência e agilidade em seus ecossistemas.”
Um jogo de xadrez com o vírus
Quais foram alguns dos desafios que você enfrentou durante a pandemia e como você os solucionou?
Dave Evans: a Fictiv desenvolve softwares que conectam os pedidos dos clientes com a capacidade de fabricação ociosa globalmente. Agora, imagine que você tem uma máquina em uma fábrica na China ou no Texas que não está funcionando. Como permitimos que um engenheiro que trabalha na Honeywell em Phoenix encomende peças para essa máquina ociosa? Durante a pandemia, quando nossa equipe na Ásia-Pacífico (APAC) foi atingida pelo vírus, tivemos que mover 30% da nossa produção para fora da China e direcioná-la para os EUA, a Índia e Taiwan. Porém, devido ao nosso ecossistema digital, esse processo foi muito eficiente e só perdemos três dias de produção. Depois, aconteceu o contrário: a APAC retomou as ações, e os Estados Unidos foram atingidos pelo vírus. Então, transferimos essa produção de volta para a APAC com apenas um dia de tempo de inatividade. Em seguida, o vírus atingiu a Índia, onde temos uma equipe de produção de proporções consideráveis. Mudamos a produção para fora da Índia e a direcionamos para outras áreas da APAC.
Mais atenção às pessoas do que aos produtos
Do ponto de vista da liderança, qual era a mentalidade necessária para causar esse tipo de impacto?
Dave Evans: muitos dos meus colegas que também são fundadores falam repetidamente sobre produtos. O que estou criando? Como fabricar um produto melhor para os clientes? Meu mantra são as pessoas. Seu pessoal cria o produto, e é esse produto que atende ao cliente. Portanto, nossa base de negócios sempre foi: como capacitar as pessoas a fazer seu melhor trabalho, estejam elas aqui conosco por um ou dez anos?
Tenho visto repetidamente que, quando as pessoas entendem o que estão tentando mudar, elas têm melhores resultados do que as pessoas que dizem: “Temos que seguir a indústria 4.0.”
Métricas são melhores que tendências
De que formas você permitiu que as pessoas fizessem seu melhor trabalho?
Dave Evans: Quando estávamos criando a empresa, perguntamos: “O que estamos tentando mudar aqui?” E optamos por duas métricas simples: Queríamos fazer as coisas com velocidade 100 vezes maior e a um décimo do custo. Essas métricas operacionais são simples, mas têm grandes implicações no que diz respeito a como você atende aos seus clientes, onde você investe em tecnologias e como você estabelece sua rede de parceiros.
Como assim?
Dave Evans: Digamos que planejamos estabelecer presença online em um novo país ou investir em uma tecnologia específica. A primeira pergunta que a minha equipe faz é: “Vamos conseguir fazer as coisas 100 vezes mais rápido do que com a solução tradicional?” ou “Isso pode ser feito a um décimo do custo?” Tenho visto repetidamente que, quando as pessoas entendem o que estão tentando mudar, elas têm melhores resultados do que as pessoas que dizem: “Temos que seguir a indústria 4.0.” No final das contas, somos responsáveis pelo fornecimento de peças que serão usadas em aviões, dispositivos médicos e veículos autônomos. Nosso grau de responsabilidade é alto, e ter métricas bem-definidas nos ajuda a manter a linha.
Nossa base de negócios sempre foi: como capacitar as pessoas a fazer seu melhor trabalho, estejam elas aqui conosco por um ou dez anos?”
Uma plataforma para criar superpoderes
Quando confrontado com adversidades, como você conseguiu atingir suas métricas operacionais?
Dave Evans: Contamos com a tecnologia para impulsionar nossa eficiência. Porém, não se trata simplesmente de estalar os dedos e deixar a tecnologia fazer todo o trabalho. É necessário que as pessoas criem procedimentos operacionais padrão (POPs) e desenvolvam a tecnologia, que é o que simplifica o fluxo de trabalho. A maneira como descrevo isso para os diretores de aquisição e operações é pensar na equipe que você montou de gerentes de sourcing estratégico, engenheiros de qualidade e especialistas em aquisição. Tenho todas essas pessoas na Fictiv, mas a diferença é que elas têm superpoderes. Se o seu pessoal só consegue lidar com cinco fornecedores porque estão fazendo isso com e-mails e apresentações no PowerPoint, o nosso pode é capaz de lidar com 500. E o motivo dessa capacidade excepcional é a nossa tecnologia. Nesse sentido, a AWS tem sido uma parceira incrível para nós. Essa combinação de softwares e tecnologias digitais agregada a operações de fabricação está totalmente madura e pronta para revolucionar.
No que você se concentra para garantir que você está mostrando resultados para os clientes?
Dave Evans: Não mantemos uma única fábrica. Temos uma rede altamente controlada e gerenciada de parceiros de fabricação que consideramos nosso ecossistema. Esse ecossistema é formado por três componentes. O primeiro é a nossa plataforma (toda a tecnologia que escrevemos, todos os nós que estamos conectando) que é executada na AWS e nos dados. O segundo são os nossos parceiros, que se integram à nossa tecnologia. Quando eles têm capacidade disponível, eles trabalham com a execução propriamente da construção dessa peça de metal ou plástico. O terceiro, que eu considero o mais importante, é o nosso pessoal. O ecossistema é administrado por pessoas como aquelas que monitoram o projeto em termos de fabricação e inspecionam a qualidade do trabalho dos nossos parceiros. Porém, elas têm superpoderes: o alto nível de aproveitamento dos nossos parceiros e da nossa plataforma digital.
Tínhamos um centro de qualidade nos EUA, onde uma equipe conferia todos os produtos antes que eles chegassem aos nossos clientes. Escrevemos SOPs para determinar como fazer isso. Nossa equipe de engenharia usou esse conjunto de processos e o digitalizou: o processo inteiro de qualidade. Eles tiraram fotos, fizeram medidas, extraíram dados e criaram um sistema que nos permitiu fazer tudo digitalmente em um painel, como uma torre de controle de tráfego aéreo. Pensamos que voltaríamos a ter esse centro de distribuição depois que a pandemia desse uma trégua. Porém, percebemos mais entregas no prazo e menos defeitos de produtos com essa implementação de tecnologia do que quando estávamos examinando fisicamente esses aspectos.
Transformar-se em um agente de mudanças
Falando em mudanças feitas durante a pandemia e que você pretende manter, o que os líderes precisam fazer para estarem preparados para a próxima crise?
Dave Evans: Durante a pandemia, a agilidade da cadeia de suprimentos passou de um problema funcional para um problema da alta gerência. De uma hora para outra, o CEO, o CFO e os membros do conselho estavam perguntando: ‘Por que a receita não está batendo?’ Os líderes da cadeia de suprimentos estão acordando e dizendo que precisam de melhores recursos de rastreabilidade, transparência e agilidade em seus ecossistemas.
Estamos vendo muitas inovações em um breve período de tempo, o que me deixa superanimado e motivado. Nunca houve um momento melhor para dizer: “Precisamos nos concentrar no digital e impulsionar a verdadeira resiliência na nossa cadeia de suprimentos”. Eu vim da Ford, onde você é sempre uma pequena engrenagem de uma roda imensa, não importa qual seja o seu cargo. Por isso, acho que não importa quem esteja ouvindo, você pode ser um agente de mudanças. Isso é o mais importante: ser um defensor das mudanças.
Meus funcionários sabem que, se quiserem colocar em prática um novo projeto, precisam explicar como o investimento aumentará a velocidade ou gerará economia de custos.”
Como alguém se torna um defensor das mudanças em meio a prioridades conflitantes?
Dave Evans: Existem alguns excelentes whitepapers que se concentram no modelo de valor econômico, por exemplo, em qual é o impacto financeiro para a sua organização ao adotar as tecnologias digitais e implementar a resiliência. Nós orientamos os clientes por esse processo. Perguntamos que tipos de atrasos você está percebendo na sua linha de produção? Qual é o tamanho da sua equipe? Se você migrasse para tecnologias digitais, o quão mais rápido seria possível obter receitas? Até que nível o rendimento do seu produto aumentaria? Podemos ajudar a elaborar esse argumento. Outra coisa em que devemos nos concentrar são as métricas. Que métricas você acredita ser capaz de afetar que sejam importantes para a sua organização? Meus funcionários sabem que, se quiserem colocar em prática um novo projeto, precisam explicar como o investimento aumentará a velocidade ou reduzirá os custos. Estes se tornam parâmetros claros para qualquer pessoa conduzir mudanças organizacionais, desde o membro do departamento de RH que contrata funcionários até o arquiteto-chefe.
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Sobre nosso convidado
Dave Evans
Cofundador e diretor executivo (CEO), Fictiv
Como CEO da Fictiv, Dave Evans lidera a visão da empresa de colocar as capacidades excepcionais de fabricação e da cadeia de suprimentos nas mãos de pessoas inovadoras sem restrições. Antes de fundar a Fictiv, Dave foi o primeiro contratado no Laboratório de Inovação da Ford no Vale do Silício, subordinado à Divisão global de pesquisa e engenharia avançada da Ford. Dave é formado em engenharia mecânica pela Universidade de Stanford.
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